quinta-feira, 29 de abril de 2010

Por Noise D...Discorda?

Faz tempo que não escrevo neste blog... Ele não está abandonado, nem eu estou por fora do que anda acontecendo na cena (o radar está sempre ligado) falta é tempo mesmo.

Mas hoje lendo algumas coisas encontrei um ótimo texto de um querido amigo, e faço questão de didivir com vocês. Peço então licença ao Noise D (na foto) para reproduzir na íntegra aqui as palavras dele, que no mínimo, nos fazem pensar.... Sobre o hip hop é claro.

Texto: Noise D
Hip-Hop, 35, Bambaataa e funk carioca
35 anos de cultura Hip-HopA cultura Hip-Hop está fazendo aproximadamente 35 anos de vida este ano. Desde seu surgimento, nos guetos do Bronx, bairro de maioria negra, em Nova York, até os dias de hoje, muita coisa mudou. Evolução ou não, o Hip-Hop hoje conquistou os quatro cantos do mundo e leva aos jovens informação e diversão.A realidade é que cada um de nós idealiza uma cultura Hip-Hop.

Difícil atualmente tentarmos expor a cultura, explicando valores e princípios básicos - que na minha opinião ainda existem e vigoram - a uma juventude que é basicamente ligada a música Rap e ainda não despertou para a profundidade dela. Mas a cultura tá aí, firme e forte, e cada vez mais globalizada, com suas características estruturais - a dança, o Graffiti, e a música (DJ E MC) -, conquistando cada vez mais adeptos e o respeito do mercado da música e da mídia de massa.

Mas, como disse, cada um de nós, cada empresa, cada veículo, cada grupo, parece ter sua visão a respeito do que seja o Hip-Hop. A cada dia que passa, me parece, torna-se mais e mais difícil conceituar a cultura de forma acertada. Na minha opinião isso vem ocorrendo devido a perda de valores fundamentais. E essa perda vem se dando, em primeiro lugar, pela própria ação de artistas e também veículos especializados.Algumas pessoas costumam ficar contrariadas quando começo com esse assunto.

Me chamam de "tiozinho", dizem que parei no tempo ou que não tenho capacidade de assimilar a evolução das coisas. Eu respeito. Mas não me cansarei de defender àquilo que considero de real valor para a cultura, que são seus princípios básicos de luta, como o respeito a diversidade, paz, união, diversão e informação. Tudo isso com positividade. Não consigo imaginar o Hip-Hop com suas estruturas fundamentadas ou relacionadas a qualquer aspecto negativo. É essa a cultura Hip-Hop que idealizo e pela qual luto diariamente para tornar cada vez mais viva. Veja, eu sei muito bem que sua origem vem de aspectos, por assim dizer, negativos.

O Hip-Hop surgiu devido as condições adversas em que viviam, em especial, os negros nos guetos americanos. Mas aí reside o grande mérito da cultura: transformar o negativo em positivo. Nesse ponto é que encontramos a maior diferença, se a compararmos com outras culturas da moda e da música pelo mundo. É a luta diária por superação. A perseverança no certo. A busca por um mundo melhor, onde todos possam usar e abusar da liberdade de expressão, mas com responsabilidade e educação. Mas não é isso que vemos a indústria promover...Assim como as tragédias que vem inundando nossas televisões, jornais e portais de notícia pelo mundo afora, parece que são os aspectos negativos da cultura Hip-Hop que ganham maior destaque. Parece um ciclo vicioso.

As pessoas parecem se alimentar da negatividade e repassam negatividade, sem muitas vezes nem perceber. E o que me deixa mais entristecido é que os principais responsáveis por isso são os próprios artistas. São eles os protagonistas desta negatividade. E, como se não bastasse, além de propagá-la ainda procuram vincular a cultura a outras culturas e elementos da vida com aspectos obscuros. Triste realidade. Triste "alimento" que milhões de jovens, pelo mundo afora, ingerem, sem sequer "olhar seus valores nutricionais", como sendo "Hip-Hop".Afrika Bambaataa, Hip-Hop e o funk cariocaEnquanto isso, acompanhamos a passagem de um dos pais da cultura Hip-Hop pelo Brasil, o DJ e Zulu King Afrika Bambaataa.

Dessa vez Bam realmente resolveu visitar várias cidades do país, passando não somente por Rio de Janeiro e São Paulo, mas indo a Porto Alegre, Salvador e outras localidades. A respeito de suas apresentações e, principalmente, de suas palavras em palestras, vamos colhendo, aqui e ali, algumas impressões, notícias e opiniões. E não é que, de quem menos se esperaria alguma postura duvidosa, vem a polêmica? O King Zulu afirma categoricamente, com seu clássico tom conciliador: "o funk carioca faz parte da cultura Hip-Hop". Não é de hoje que ele faz essa afirmação. Todo respeito ao mestre e "pai do Hip-Hop", mas mesmo como membro da Zulu Nation Brasil que ainda sou, com muito orgulho, sou obrigado a discordar.

Bambaataa, durante suas apresentações, mal toca música Rap. Seu set passa muito pouco, por exemplo, das clássicas músicas que marcaram época, de grupos como Public Enemy, KRS-One, A Tribe Called Quest, Run DMC, Beastie Boys e tantos e tantos outros ícones da música Rap. O que se escuta é muito funk carioca. O pancadão made in brazil. E muitos deles, com letras da pior espécie, que tratam a mulher como objeto, banalizam o sexo e a violência. Falam de putas, de popozudas, do rebolado erótico da mulata.

Falam dos AK-47, das bazucas, das pistolas automáticas e em metralhar a polícia. Fazem apologia às drogas e promovem o descompromisso e o desrespeito alheio. É esse o funk carioca que se quer propagar? Vejam, eu respeito muito os artistas e articuladores do funk carioca. É uma manifestação legítima brasileira. No entanto, não sou obrigado a respeitar àquilo que vai de encontro a meus valores e princípios como homem.A cultura Hip-Hop, que conheci, estudei, idealizei e aprendi a admirar, passa longe da negatividade. É uma cultura de realidade, amor e verdade, que transmuta, transforma o negativo em positivo.

Que me perdoem àqueles que acham que sou contra a "evolução das coisas", mas prefiro continuar com meus ideais intactos a ter de aceitar uma "nova cultura Hip-Hop" envolta em egoísmo, competitividade sem parâmetros e violência, seja na forma que for.


Continuarei lutando pela ética, bom senso, paz e o respeito ao próximo, por que acredito ser esses princípios operantes na cultura Hip-Hop.Salve o verdadeiro Hip-Hop! Suas raízes no Bronx e os guerreiros que ajudaram a construir e se foram, e aqueles que estão vivos e lutando por um mundo melhor. Tamu junto!

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